quinta-feira, novembro 26, 2009

cartas baianas na ufba


Sim, Malhado e a andorinha Sinhá, eu também sou devota do São João do carneirinho. E sou a favor de batismos até em bebedouros.


Deixo imagem de Scorsese, que fez de Andre Gregory um sagrado e imortal João Batista. Em preto em branco, por causa do charme do nosso homem nu com os seus três vestidos cheirando a rosas, jacintos, sândalo e talco.


Foi um prazer estar com todos vocês, escritores baianos, falando de literatura para alunos da nossa universidade federal da bahia.




quarta-feira, novembro 18, 2009

e o barquinho vai...


Há uma poesia do conflito que retorce o espaço. E assim se perde a noção de alto e baixo, céu e terra, matéria e espírito, deus e diabo. Os lugares se profanizam, aumentam-se as curvas - agora elas são a menor distância entre dois pontos. Outras ladeiras se constroem e a cidade de são salvador se reelabora, se multiplica. O nosso olhar é guiado, conduzido,como se a câmara nos permitisse um passeio a-turístico por uma nova cidade.

A cidade se arrasta metaforicamente, camaleônica, fotossintética, arrancandodo ar outros alimentos visuais, corporais. A fotografia é um corpo em movimentocheio de nuances e contrastes. É assimétrica, grandiosa, monumental, retorcida.

É teatral porque é dramática. É música porque é ritmo. É literatura porque traz figuras de linguagem, metáforas, anacolutos, antíteses. É desenho porque Se utiliza da escala como valor plástico de primeira grandeza. É arquitetura Por suas formas ambivalentes, côncavas, convexas, dinâmicas, brincando de esconde-esconde com o nosso olhar, figuras de mostrar, figuras de ocultar. Relevos, contrapontos.

Quem escolhe a trilha para onde devemos nos dirigir é o fotógrafo e seguimos o seu passo. Um passo que quebra a convenção de cidade-patrimônio, mas não a reduz. Recria-se uma inusitada geometria, seduzida pela libertação espacial, um jogo visual que assume nova significação, uma atitude criativa a partir de novas formas que vão gerar novos conceitos. Um barroco contemporâneo?

Que outro sentido maior teria a hoje tão banalizada fotografia senão registrar exatamente aquilo que
não se vê? A fotografia não é um muro, um limite – é um começo. Um movimento que se amplia,
se transforma e com o qual se pode, entre outras coisas, revisitar e reescrever a velha pérola imperfeita.

PARA QUEM AINDA NÃO FOI VER: "PÉROLAS IMPERFEITAS", DE DAVID GLAT, ESTÁ NO MAM ATÉ O DIA 09/12

A fotografia acima é apenas uma das Pérolas Imperfeitas (a do Forte de São Marcelo). E como David é carioca, não resisti à brincadeira com o clássico da bossa-nova. Afinal o forte não parece um barquinho barroco?


domingo, novembro 08, 2009

pérolas imperfeitas


David Glat está com nova exposição fotográfica. Chama-se Pérolas Imperfeitas. Está no MAM e tem abertura amanhã, segunda, dia 09, às 19h. E deixo aqui o convite porque David é o que de melhor existe na nossa fotografia. Depois do MAM, a exposição segue para o Rio e São Paulo.



quarta-feira, novembro 04, 2009


Sexta, dia 06, às 17h, participarei de um evento literário na Academia de Letras da Bahia. O evento é organizado pelo poeta Cajazeira Ramos. O modelo segue a leitura e análise de contos dos escritores convidados, que serão Luís Henrique Tavares e eu. A querida amiga Cássia Lopes, juntamente com o acadêmico João Eurico Matta serão os debatedores. E será um imenso prazer ver os frequentadores desta casa frequentando também aquele belo casarão das letras.

segunda-feira, novembro 02, 2009

30


Não é a forma que gosto de usar, prefiro a imagem que aparece no livro do Shivananda, mas esta é a que mais parece com o número 30.
E também não é para mim, é para você, Amanda, o OM de fogo de computador como presente de aniversário.

domingo, novembro 01, 2009

lars von trier


Anticristo, o polêmico filme do polêmico cineasta dinarmaquês, traz algumas das mais belas cenas que eu já vi no cinema. Acho engraçado ele se auto-intitular o "melhor diretor de cinema do mundo" num bombardeio jornalístico em Cannes. Mas a coragem da afirmação me faz pensar que deve ser boa a sensação de intuir que se pode ser o melhor diretor de cinema do mundo. Dedicou o filme a Tarkovski ("ele era uma espécie de Deus, dedicaria todos os meus filme a ele"), que estando morto, não pode mais ser o melhor diretor de cinema do mundo.

terça-feira, outubro 27, 2009

jeremias no FIAC

Foto de David Glat, com Amarílio Sales e André Tavares
Estamos com a segunda edição do FIAC (Festival Internacional de Artes Cênicas) acontecendo na cidade. E Jeremias, profeta da chuva está na programação nos dias 30 e 31 de outubro na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, às 20h. Para quem ainda não viu, é o momento.

quinta-feira, outubro 15, 2009

toda criança devia ter um cão


Dias destes, passando em frente à Igreja da Piedade e sua bela cúpula de cor púrpura, não, não se vê o púrpura durante o dia e por isso não olhei a igreja, mas soube depois que havia homenagem ao dia de São Francisco. Centenas de crianças e adultos levaram seus bichos de estimação para a igreja a fim de que eles recebessem as bênçãos do santo. Não vi esta deslumbrante cena, vi apenas dois frades franciscanos carregando um andor. E perguntei: para onde vai o santo? E eles: para a casa dele, o santo estava passeando. E imagino o quanto santo deve ter ficado feliz em ver sua casa cheia de bichos que são proibidos de entrar em quase todos os lugares públicos. Felizes deles que tem os lugares privados nos corações de seus donos. Em minha casa, somos cinco filhas. Todas as outras quatro tem cãezinhos de estimação. Eu já tive os meus - alguns - na infância. Um deles, o que mais gostei, Black, morreu atropelado por um caminhão de lixo. Tinha uma mancha na barriga e por isso foi reconhecido. Chorei muitos dias e sempre imaginava que ele havia sumido, que estava por aí, em algum lugar do mundo e que um dia retornaria. Um cão ensina muito uma criança a amar.

terça-feira, setembro 01, 2009

na academia de letras da bahia


O poeta Cajazeira Ramos fez o convite e eu aceitei, claro, participar deste belo encontro com grandes escritores desta terrinha. E levarei o teatro para passear neste belo casarão de Nazaré.
Aos visitantes desta casa: a programação é vasta e acontece sempre na primeira sexta-feira do mês, às 17h. O projeto tem início agora em setembro, no próximo dia 04. Estarei na mesa de novembro. Apareçam!

terça-feira, agosto 18, 2009

andré tavares e fernanda paquelet


Jeremias, profeta da chuva chega nas suas duas ultimas semanas na Sala do Coro do TCA (sex a dom, 20h). E teremos dois novos lindos atores com a gente: André Tavares como Jeremias e Fernanda Paquelet como Jerusah e Josefina. Que uma mãe nonana, uma sereia cearense de batom, proteja-nos nesta nova caminhada.

sábado, agosto 08, 2009

continuidades



Vejo este espetáculo. Ele mora no futuro. Terá um farol ou pedras vulcânicas. E será frio como um beijo guardado. As pessoas ficarão incomodadas e tristes. Um bom homem morrerá. É confortável saber que sempre haverá teatro, mesmo depois que eu estiver morta. A foto é de Jonas Bendiksen, do álbum Satellites. Ou é cenário desta peça improvável.

quarta-feira, agosto 05, 2009

suryanamaskar


Jeremias, profeta da chuva começa com um ritual de saudação ao sol, o Suryanamaskar. As pessoas não sabem do que se trata e por isso o rito-introdução divide opiniões, mas para mim sua presença sempre foi clara: desde a lembrança da saudação sendo aprendida com o maravilhoso ator e diretor da Paraíba, o Luiz Carlos Vasconcelos, do maravilhoso Vau da Sarapalha. E depois também quando eu soube que Padre Cícero - sertanejo de cabeça chata e lindos olhos azuis - era um estudioso do hinduísmo. A primeira cena é intitulada "Experiência com o sol" e no ritual, pedimos que ele venha suave e brando. Que nos ilumine, mas não nos queime. Houve momentos que a conversa com a estrela foi tão boa, que pedi chuva com tanta veemência, que quase cheguei a acreditar que toda a inundação no Maranhão era por minha causa.

sábado, agosto 01, 2009

segunda-feira, feira de santana

Na segunda, em Feira de Santana, acontecerá o I Encontro Literário da UEFS: (Re) leituras. Estaremos eu e vários amigos escritores nas seguintes mesas temáticas:
  • Confissão e ficção na literatura contemporânea.
  • O tecido da ficção: memória, escrita e representação.
  • A palavra e o corpo: a literatura como performance.

Estarei nesta última mesa e, com certeza, falarei também sobre Jeremias, uma palavra e um corpo meus neste momento. O encontro durará 10 horas e será um grande prazer estar novamente em Feira comunicando escritas.

Agradeço então, aqui, o precioso convite.

quarta-feira, julho 29, 2009

segue o que teu coração está ordenando


Os hindus colocaram o sagrado coração num macaco, o Hanuman. Para ver se se a gente consegue entender o sagrado na imanência. Na foto, de peito aberto, Bira Freitas, o meu Lunário Perpétuo, apontando a direção dos ventos para Jeremias, profeta da chuva.

terça-feira, julho 28, 2009

segunda-feira, julho 27, 2009

herança de tirésias



Um haiku de Borges:


a ociosa espada
sonha com suas batalhas
outro é meu sonho











Cego Aderaldo, cantador do sertão

quinta-feira, julho 23, 2009

SEM COMENTÁRIOS



Hoje decidi tirar os comentários do meu blog. Até gostava dos comentários, nunca apareceu nenhum que tivesse realmente me irritado. Pelo contrário, os comentários sempre foram até muito bacanas para um blog tão descompromissado com este. Por causa dos comentários, revi amigos, recebi delicados recados de alunos antigos, elogios de toda sorte, já fui até paquerada anonimamente por cá. Já aconteceu uma ou duas vezes uma coisinha desagradável, mas nada que tivesse feito, na época, eu querer abolir os comentários. Pelo contrário: até gostei de ver gente entrando aqui, na minha morada, para discordar de alguma coisa. Mas hoje pensei que, na verdade, nunca quis mesmo que o blog fosse um diálogo. Ele é um monólogo evidente. E aqui é um daqueles lugares onde exercito um pouco o que pode se chamar de liberdade. É o lugar para eu escrever para mim coisinhas banais de um cotidiano invisível, palavrinhas que não acredito que devam ser jamais impressas. E se alguém quiser escrever algo pra mim, fica o mail, no topo da página, logo acima desta minha foto linda. Sim, linda sim. E agora, sem nenhuma preocupação se vão comentar ou não sobre esta minha falsa modéstia. Na verdade, esta modéstia nem é falsa, pois me odeio nas fotografias: penso que sou muito mais bonita do que sou e quando me olho nas fotos, o que vejo é uma pura decepção. Mas uma pessoa muito querida me disse que nesta foto acima, do lado, estou meio billie holliday meio frida kahlo. Então porque reclamar dos dons de David Glat, que conseguiu me deixar meio artista plástica meio cantora, coisas mesmo impossíveis em qualquer outro lugar além desta foto?
Sim, quem quiser escrever algo pra mim, fica o mail, logo acima da minha foto linda, lá em cima, do lado direito da tela para quem está teclando.
Volto a ficar só neste mar. E imagino que vou mesmo apreciar isso de nadar sozinha.
Foto de Isabel Gouvêa

segunda-feira, julho 20, 2009

sedna

Ainda sem dedos, há abraços. Ainda sem mãos, há abraços. E também há os abraços com os dedos e os abraços com as maõs. Nas águas frias da noite, Sedna abraça um pássaro.

escola da noite


Diz Abel Neves: é nas coisas pequeninas que se vêem as grandes. O seu texto, Este Oeste Éden, teve estréia teatral em Coimbra neste final de julho. E não haveria melhor lugar para um espetáculo de Abel morar senão numa escola que ensina e aprende a noite. Uma aprendizagem da noite: o abraço. Uma aprendizagem possível, não utópica, paradisíaca. Meu caloroso abraço daqui do oeste.

Foto de ensaio, de Pedro Rodrigues

segunda-feira, julho 13, 2009

em paz



Pedacinho do Dao De Jing pra clarear o dia:
A glória suprema não se vangloria
Não esmerar como jade mas rusticar como pedra
Na foto: Ramakrishna, o louco da deusa

sábado, julho 11, 2009

dos bastidores


Ver por trás. Os pequeninos espelhos do xale vermelho se transformam em estrelinhas da escuridão. O silêncio, o rito, a oração para dentro. Meu respeito e amor por este mistério do ser ator. A beleza é tanta que ofusca a vaidade. Eles me representam no escuro. Eles são minha sombra e a minha mão invisível que doma o leão. Estou na voz deles na frente de todo o mundo. Eles estão no meu corpo em segredo, em pacto íntimo. Eles me queimam, me molham, me sujam de terra, me respiram. Minha alma se assusta, sinto dores na cabeça e nos ombros. É tarefa difícil estar e não estar ao mesmo tempo ali, naquele tear. E quem dirá a pausa que eu não fiz? E quem escutará o grito que eu não dei? Arte arteira, esta, com suas travessuras. Então misturo as letras, aprendo a bordar os pedaços de asperezas e desvendo o meu delicado tecido.

segunda-feira, julho 06, 2009

tenho botas vermelhas por causa de você




Ana Paula, Aninha, Ana P, annany, de pelúcia, ana cordeiro, de deus, ana carneirinho, @newyork.com.br. Para você, minha oxum camarão, com suas mãos magras e lindas e longas e que sabem fazer livros, que carregam livros, estantes na alma, biblioteca e cafeteria no piercing do seu umbigo.
Minha suave declaração de amor cá debaixo do Equador. E vestindo uma lingerie preta e vermelha, linda e metropolitana e rubra, como as minhas unhas, vísceras, batom. Uma que eu escolheria com você, nosso mineral, nossa pedra de carvão. Porque dividíamos intimidades. Como doeu, se doeu, se ardeu.
E que bom que lembras de mim nas pequenas bobagens entre os grãos de café. E esquece do tempo embalando meu jeremias. E intuindo o gayatri yantra num copo de chá de letrinhas.
jeremias, jeremias! És um gato? Mias?
Pra você, um brinde, um gole de licor de amêndoa com uma pitada de cachaça de Abaíra (não é de Camaçari nem de Castro Alves, mas serve?).
E ao som dos juramentos de Marina de la Riva.
FOTO: Ana Paula Cordeiro

domingo, julho 05, 2009

cartas bahianas, o terceiro


João Filho, Aninha Franco e Marcos Dias enviam novas Cartas Bahianas e já é a terceira leva da série. Desejo que eles espalhem muito dendê no asfalto quente para esta coleção fritar vários bolinhos. Dia 07, às 07 da noite. É lua cheia e eu estarei lá.

quarta-feira, junho 24, 2009

é o dia dele


Sim, o meu santo favorito é o São João Batista menino do carneirinho. Santinho criança com cabelo de anjinho e cercado de flores, estrelas e bichinho. Santinho que gosta de traque de massa, de fogos de artifício, de estralinho.

Esta é uma imagem de uma cena de Jeremias que foi ofertada a ele. É uma cena de reisado, onde o rei é o santo junino e a rainha é a chuva. Os atores cantam, dançam e tocam para para um certo São Cristinho, um santo que não existe em nenhum outro lugar a não ser no nosso palco. Um santo feito da poeira das estrelas, como o santo do estudo de Da Vinci, que ao fazer-se obra, transformou-se num carneirinho a brincar com o menino Jesus.

A foto é de David Glat e aqui, hoje, fica em homenagem a Almir e Jelber, nossos sanfoneiros queridos, que me presentearam com a infinita beleza desta música mágica que sai de um fole. Que Gayatri, com seu lume, possa iluminá-los no céu, na terra e em tudo o que há no meio.

E viva a São João! E que ele faça dar vinte espigas de milho no nosso pé.

domingo, junho 21, 2009

menorah


Disse Artaud, numa das suas cartas a Henri Parisot, escrita no asilo de Rodez: " Quando recito um poema, não é para ser aplaudido, mas para sentir os corpos dos homens e das mulheres tremerem e rodarem em uníssono com o meu, rodar como se roda na obtusa contemplação do Buda sentado, para a alma, quer dizer, para a materialização corporal e real de um ser integral de poesia". E mesmo fora do asilo, sinto o que sentia Artaud.
Foto do pai de Jeremias, seu Euquides (interpretado por Amarílio Sales), clicada por Yuri do Val

quarta-feira, junho 10, 2009

aquela rosa foi uma jura que eu fiz



Esta é uma fotografia de David Glat para a terceira cena da peça Jeremias, Profeta da Chuva(Sala do Coro, de sex a dom, às 20h).

No elenco, chamam-na de "A cena de Rosinha", mas no texto lê-se: "Cena III: Experiência da Música". E leva este nome porque é uma singela homenagem a Luiz Gonzaga através de uma música que trata de uma profecia da chuva, falando do pássaro asa branca que bateu asas do sertão por causa da terra ardendo qual fogueira de São João.

Os atores na fotografia são: Simone Brault (em primeiro plano) interpretando Rosinha e Antônio Fábio e Mônica Gedione (ao fundo), interpretando Jeremias e sua esposa Nininha.

O texto da carta foi modificado ao longo do processo e traz apenas dois pequenos trechos de Asa Branca. A homenagem ao mestre lua continua e quem faz a voz do Luizinho, o coração de Rosinha que se foi, é o maravilhoso cantador pernambucano Silvério Pessoa. E na minha opinião, Silvério é o que de melhor existe na interpretação da música popular brasileira. Por isso, é uma felicidade ímpar tê-lo neste processo.

segunda-feira, junho 08, 2009

nasceu


Sim, Jeremias, profeta da chuva veio ao mundo.
Para assisti-lo, basta ir à Sala do Coro do Teatro Castro Alves, de sex a dom, às 20h.
A criança já anda com os seus próprios pés e é uma criança linda.
Uns dias, parecerá um leão. Noutros, parecerá um camelo.
Quando permanecer criança, será um espetáculo muito mais belo.
Como a natureza das coisas: simples como a vida, complexas como o teatro.
Ou vice-versa.

domingo, maio 03, 2009

cordas






Enquanto tento entender o universo elegante que a física tenta estabelecer através da teoria das cordas, percebo que elas também são predições. Assim, conecto-me com elas. No meu espetáculo Jeremias(que estreará em junho no Núcleo TCA) há cordas cósmicas, terrenas e oníricas. Foram sugeridas pela Miniusina, arquitetos cenógrafos que trazem diariamente para mim, belas descobertas para o palco. E aos poucos, todos da equipe, vão tecendo os fios emaranhados, arrumando o tear, a rede. As cordas somos nós, unidos invisivelmente pela deidade que queremos seguir. Neste momento, o teatro.


Nas fotografias, o grande e querido Hélio Eichbauer prevendo as cordas e as mãos de Zoíla Barata tecendo as linhas do nosso figurino

domingo, abril 05, 2009

bienal


Dia 26 de abril, domingo, às 18 horas, estarei com Alcione Araújo e Cacilda Póvoas no Café Literário da Bienal falando sobre dramaturgia contemporânea. Que tenho eu a falar sobre isso? Quase nada. Então falarei de Jeremias, profeta da chuva, que é um texto meu e é um texto deste tempo. Assim, sendo do meu teatro, eu estando dentro do assunto, sei falar de tudo, porque sei falar das minhas coisas. E vou lá, escutar e aprender com o Alcione, sempre tão cheio das sabedorias da palavra para a cena.

E esta foto acima é de um espetáculo com texto do Alcione, o Doce Deleite. E deixo aqui em homenagem ao palhacinho do meu cumpadre Lucian e à Cacilda, companheira de mesa, e que também é o nome do blog do Nelson de Sá, de onde pesquei esta fotografia.

domingo, março 22, 2009

a mais bela

O busto da bela egípcia mede uns cinquenta centímetros. A bela não tem uma córnea. Borges, um dia, modificou um dos seus poemas porque estava perfeito demais. Talvez não tenham colocado o outro olho para não fazer inveja às deusas. Ou talvez o olhar da rainha Nefertite seja o prenúncio de uma profecia sem decifração.

sexta-feira, março 20, 2009

um adeuzinho ao verão

E ainda há o bruxo magro, a coluna vertebral que come a cinza dos deuses. E a menina que depila os pelos e se pinta de mariposa cor-de-rosa. E um príncipe miudinho que sabe respirar por um narina só. As mosquinhas assistiram todo o filme e foram dormir nos seus travesseiros dentro dos mosquiteiros de nylon. Um pássaro aponta os pontos cardeais e já é outono na cidade.

anotações de um ritual


O camelo, o leão e a criança brincavam com os quatro elementos. A mãe que matou os seus filhos era fogo. Josefina é fogo. Jerusalém é fogo. O homem da água é filho da mulher quase cega e sem uma perna, mulher também da água porque é mãe do menino da água. Mulher também do quadrante da árvore. E do fogo de Deus. E da raiz da respiração de onde sai a reza e a oração. A menina que foi deixada chora e também banha o seu filho de lágrimas, mas o filho está vivo. É magro, é de madeira, é de terra, sujo de carvão. E lindo. A irmã dela quer ser a madona e parir uma pomba. Ai, ai, ai. O camelo sonhava que viesse a chuva, a chuva dos camelos, a chuva dos índios e dos noruegueses. A criança se desejava artesã de quermesse, criar bonecas de toco de pano. O leão era o pai. Lia o seu almanaque e visitava o seu amigo, o professor Pardal, o leão-galo da rosa dos ventos. O menino brincava de bicicleta e mexia a barriga para dentro e para fora, cheio de ar, fazendo graça. O sacerdote atanazava o sonho do moço bom. A mulher que queria virar santa e morar em alturas, também levava consigo um pouco de água, de pó de terra e pequenos fogos de artificios, chuvinhas, traques de massa. Foi-se embora, com o seu teatrinho.

terça-feira, março 17, 2009

cartas bahianas, segundos volumes


O projeto Cartas Bahianas, editado por Claudius Portugal e a P55 segue com mais dois novos lançamentos. O sol que a chuva não apagou, de Allex Leilla e Vestígios da Senhorita B., de Renata Belmonte, duas colegas de ofício. Allex é quase uma madrinha, pois estava na banca da Copene quando fui premiada em 2001. E é uma das grandes escritoras da terrinha. Aliás, a casa está bem servida: ela e João Filho (seu marido, que também estará na coleção) fazem uma bela dupla e tudo que escrevem é muito bom. Renata, sempre linda com seus bonitos vestidos, promete trazer bons vestígios do seu blog. Estarei lá, claro, para prestigiar a coleção. E mês que vem também teremos Aninha Franco com um inédito livro de gastronomia...

domingo, março 08, 2009

artesania

Foto de Lia Seixas

Aos 80 anos de idade, depois de um acidente num pé de jaca, Seu Diva, convalescendo, começa a criar passarinhos de tecido, passarins de pano. Bichinhos que não vivem em gaiolas. E foram as suas harmoniosas estampas brilhantes e coloridas alinhavadas com o sorriso de Dona Ana brincando com elas, que curaram a perna de Seu Diva.


A criação de Seu Diva, assim como a de alguns outros delicados artistas artesãos que tenho encontrado pelo caminho estarão perto de mim hoje e sempre nas minhas andanças no teatro e na vida.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

o cristal e eu

Gayatri Mantra em escrita devanagari

Todo este sólido e tangível mundo que enxergamos é feito tão somente de diferentes tipos de vibrações e energias operando em diferentes níveis. Tudo é diferente e é igual, já que somos um único.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

seu diva

Colagem de Maria Julieta R. D. Ferreira

Minha mãe chama o meu pai de Deco. Mas ninguém o chama de Seu Deco. Deco é apelido só dela. Meu pai chama a minha mãe de Fiinha. E ninguém mais a chama assim. Fiinha é apelido só dele. Dea é o meu apelido de antigamente. Só quem me chama assim são meus amigos muito queridos, minha família e gente que me conheceu na infância e adolescência. Dia destes, num lugar improvável, ouvi recentes colegas de ofício chamando-me de Dea. Foi como sentir o cheiro da casa onde nasci.
Neste carnaval, viajei para uma pesquisa disfarçada de passeio. E nestas andanças conheci o Seu Edivaldo, um artesão de oito décadas de delicadezas., uma das razões da minha longa trilha nos gerais do Rio Preto. Enquanto sua velhinha e alegre esposa, Dona Ana, Donana, Nonana, abria-me as portas de sua casa, oferecia-me café e sorria , brincando com as criaturinhas do seu companheiro Diva, eu ia me aproximando e chamando-o de Seu Diva também. Acolheram-me, permitiram-me. E minha pequena família de cristais, bichinhos e gentes vai aumentando no mundo.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

vadeia dois dois


http://calendario.incubadora.fapesp.br/portal/introducao/imagens/asteca/image_preview

Dois dos dois. E esta casa faz aniversário de dois anos. Odoyá. O banho de chuva e mar com as pedras preciosas não foi no rio vermelho, foi no mar da baía da barra. No rio vermelho, um banho de sol amarelo, cantando o gayatri ao som dos atabaques para a rainha do mar e louvando Surya.


A razão disso tudo: os onze lindos atores que souberam hoje que farão parte do pequeno e delicado universo de Jeremias, profeta da chuva: Antônio Fábio, Amarílio Sales, Bira Freitas, Claudia di Moura, Fernando Santana, Marcos Machado, Maria de Souza, Mônica Gideone, Simone Brault, Tânia Soares e Zé Carlos Jr.

domingo, janeiro 18, 2009

para uma certa nina



Cartas Bahianas:

Pois bem: Para uma certa Nina é uma espécie de carta para uma sertanina, uma sertaneja ficticia para quem envio um bilhete, uma caderneta, um bloco de anotações. É um livrinho de brincar, colorir, divagar. Devagar. Uma andança em novas paragens: o conto curto, que ora é fragmento, ora prosa poética, mas tudo escrito ainda dentro da idéia do conto, meu estilo favorito. Tudo está em volta de uma história a ser contada, mesmo que seja de forma diminuta, como se fosse um trechinho de conto disfarçado de Koan, de haicai, de pequeno poema. Contos grandes partidos em pedaços, e ofertados para uma mulher que conheci depois de um acidente de carro que eu vivi em 2005, no alto sertão nordestino, no pé de uma serra na divisa de Pernambuco e Ceará, onde estive pesquisando o universo dos profetas da chuva para escrever o texto de teatro Jeremias.
Na encruzilhada onde houve o acidente estava uma pessoa, não lembro o seu nome, era uma mulher bonita, cheia de filhos, alegria no rosto e um marido robusto, honesto. Resolvi chamá-la de Nina. Ela já não tinha dentes. E a pele e o cabelo eram muito estragados pelo sol. E olhava pra mim como eu fosse um mistério, quando o mistério era ela própria.
Claudius convidou-me para o projeto Cartas Bahianas e eu quis enviar uma carta àquela mulher. Um conto, que é o que eu mais gosto de escrever entre as coisas que se escreve. E então nasceu este livrinho híbrido. Um registro suave e delicado de sensações que permearam esta viagem pelo sertão, onde atravessei desde a Bahia até o Norte do Ceará, lendo Guimarães. Por isso, uma homenagem a ele no final do livrinho. Guimarães é um mundo que eu louvo, louvarei sempre. Em segredo, mais bem em segredo mesmo, penso que Para uma certa Nina é o meu Tutameiazinho. Assim, sem acento e no diminutivo, para não ofender o mestre das travessias. Então posso dizer que ele é uma travessura, um travessinho. Mais um dos meus livrinhos de contos. De outro jeito, mas do mesmo modo, da mesma maneira.

aqui



Cartas Bahianas:

Vanessa Buffone estreou o seu primeiro livro em 2005, também pelo Braskem. E eu era membro da comissão julgadora no período. Os dias foram nos fazendo próximas e hoje eu sou a sua cumadre fulozinha. Estaremos juntas novamente na estréia do Cartas Bahianas. E fico feliz em andar entre amigos neste vasto, lindo e árido caminho da literatura.

três vestidos e o meu corpo nu


Cartas Bahianas:

Marcus Vinicius Rodrigues esteve sentado ao meu lado num dos dias mais felizes da minha vida, que foi o lançamento do meu primeiro livro de contos, As Camas e os Cães, pois ganhamos juntos o Prêmio Braskem de 2001, na época ainda Copene. Agora estaremos perto novamente, na terça, dia 20, na Tom do Saber, estreando esta coleção coordenada por Claudius Portugal, que, em 2001, era membro da comissão julgadora deste prêmio. Está sendo assim a minha caminhada na literatura baiana: encontrando e reencontrando amigos para andar juntos. E você, que agora passa aqui pela casinha, vê se aparece por lá pra brindar com a gente.

cartas bahianas


Cartas Bahianas é o nome do projeto idealizado pelo escritor e editor Claudius Portugal e visa publicar nomes de todas as gerações da nossa literatura baiana. Estreando o projeto teremos eu, Marcus Viniciius Rodrigues e Vanessa Buffone. Os lançamentos serão na charmosa livraria Tom do Saber, no Rio Vermelho, agorinha, terça, dia 20, a partir das 19horas. E quem frequenta a casa, é nosso convidado.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

jeremias, profeta da chuva

Imagem do trecho de uma paisagem em Quixadá- CE

O espetáculo do Núcleo do Teatro Castro Alves em 2009 será "JEREMIAS, PROFETA DA CHUVA", com texto e direção da dona desta casa da mãe nonana (Ô, delícia! Ando feliz...).

É um projeto muito querido que venho plantando desde 2006. Agora é o momento da colheita e aguardo bons companheiros neste debulhar do milho.

Em novo formato, o Núcleo, hoje, abre audições para atores e inscrições em diversas oficinas durante este mês de janeiro. Aqui deixo as datas e algumas informações. Maiores detalhes podem ser obtidos pelos telefones (71) 3117-4881/4882, através do site www.tca.ba.gov.br ou pelo endereço eletrônico tca.nucleo@tca.ba.gov.br


AUDIÇÃO PARA ATORES
Inscrição de 05 a 16 de janeiro no Núcleo de Produção do TCA.
Realização: 19 a 21 de janeiro.
Serão selecionados 30 atores que participarão de uma oficina de 26 a 30 de janeiro para formação do elenco do espetáculo.


OFICINA DE DIREÇÃO - ADELICE SOUZA
Para seleção de dois assistentes de direção. São oferecidas 20 vagas e são exigidos como documentos fotocópia de RG e currículo vitae. A oficina tem carga horária de 15h.
Inscrições: 5 a 9 de janeiro no Núcleo de Produção do TCA, de segunda a sexta, das 13h às 17 h.
Realização: 13 a 15 de janeiro


OFICINA DE PRODUÇÃO - BRUNO MORAIS
Para seleção de dois assistentes de produção. São oferecidas 20 vagas e são exigidos como documentos fotocópia de RG, currículo vitae e comprovação, via atestado ou programa, de participação em, no mínimo, duas montagens como produtor ou assistente de produção.
Inscrições: 5 a 9 de janeiro no Núcleo de Produção do TCA, de segunda a sexta, das 13h às 17h.
Realização: 13 a 15 de janeiro


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AS OFICINAS ABAIXO TERÃO INSCRIÇÕES DE 12 A 21 DE JANEIRO NO NÚCLEO DE PRODUÇÃO DO TCA, DE SEGUNDA A SEXTA, DAS 13H ÀS 17H. E SERÃO REALIZADAS NOS DIAS 26 A 30 DE JANEIRO.

OFICINA DE CENOGRAFIA - HÉLIO EICHBAUER

OFICINA DE ILUMINAÇÃO - GUILHERME BONFANTI
OFICINA DE OBJETOS CÊNICOS - OLGA GOMEZ
OFICINA DE FIGURINO - SIMONE MINA

domingo, janeiro 04, 2009

vôo

Prunus en fleur, de Shitao. Musée de Shangai

Não faço acordos: aceito tudo, menos tirar o mais belo acento da língua portuguesa. Em vôo, o acento não é mais um sinal diacrítico circunflexo, é uma andorinha sobrevoando a palavra, é uma revoada, uma asa, um pouso, um teto, uma abóbada, um céu. O chapéu do marinheiro, bandeira, um canto, um último suspiro, um barquinho de papel.
Eu vôo e o meu vento não soprará este acento.

sábado, janeiro 03, 2009

nonada

Carnival Center (E.U.A), uma casa onde estive em 2006, dirigindo um espetáculo

Pois: criei este blog num dia de Yemanjá. E queria que ele fosse uma morada. Mesmo tendo um carinho especial por titulos, descuidei desse e acabei dando o primeiro nome que me ocorreu: falava de casa, de mãe e, de sobra, desta liberdade do blog em misturar assuntos variados, como uma casa da mãe joana. Nada criativo, porém. Continuará assim, mas em tempo de novos acordos ortográficos, faço uma pequena modificação. Agora será casa da mãe nonana, numa pequenina homenagem ao Guimarães Rosa e sem perder o balanço final de ana, este nome bonito de mulher que ilumina a identidade de algumas amigas que tenho. Uma destas queridas anas, capricorniana, está bem longe, morando na casa de Obama, e como o escritor mineiro, também borda suas artes em papel.