quarta-feira, novembro 18, 2009

e o barquinho vai...


Há uma poesia do conflito que retorce o espaço. E assim se perde a noção de alto e baixo, céu e terra, matéria e espírito, deus e diabo. Os lugares se profanizam, aumentam-se as curvas - agora elas são a menor distância entre dois pontos. Outras ladeiras se constroem e a cidade de são salvador se reelabora, se multiplica. O nosso olhar é guiado, conduzido,como se a câmara nos permitisse um passeio a-turístico por uma nova cidade.

A cidade se arrasta metaforicamente, camaleônica, fotossintética, arrancandodo ar outros alimentos visuais, corporais. A fotografia é um corpo em movimentocheio de nuances e contrastes. É assimétrica, grandiosa, monumental, retorcida.

É teatral porque é dramática. É música porque é ritmo. É literatura porque traz figuras de linguagem, metáforas, anacolutos, antíteses. É desenho porque Se utiliza da escala como valor plástico de primeira grandeza. É arquitetura Por suas formas ambivalentes, côncavas, convexas, dinâmicas, brincando de esconde-esconde com o nosso olhar, figuras de mostrar, figuras de ocultar. Relevos, contrapontos.

Quem escolhe a trilha para onde devemos nos dirigir é o fotógrafo e seguimos o seu passo. Um passo que quebra a convenção de cidade-patrimônio, mas não a reduz. Recria-se uma inusitada geometria, seduzida pela libertação espacial, um jogo visual que assume nova significação, uma atitude criativa a partir de novas formas que vão gerar novos conceitos. Um barroco contemporâneo?

Que outro sentido maior teria a hoje tão banalizada fotografia senão registrar exatamente aquilo que
não se vê? A fotografia não é um muro, um limite – é um começo. Um movimento que se amplia,
se transforma e com o qual se pode, entre outras coisas, revisitar e reescrever a velha pérola imperfeita.

PARA QUEM AINDA NÃO FOI VER: "PÉROLAS IMPERFEITAS", DE DAVID GLAT, ESTÁ NO MAM ATÉ O DIA 09/12

A fotografia acima é apenas uma das Pérolas Imperfeitas (a do Forte de São Marcelo). E como David é carioca, não resisti à brincadeira com o clássico da bossa-nova. Afinal o forte não parece um barquinho barroco?