terça-feira, abril 19, 2011

o rei, setenta vezes o rei

o rei

o rei

a flor do butoh

Programa de Pós-Graduação em Artes do Espetáculo da Universidade Federal da Bahia. Pesquisa em Artes Cênicas. Armindo Bião. O trajeto: Laboratório de Transculturação e Criação de Performances. O objeto: Transculturação e Renovação de Linguagens. O Leste conhece Kazuo Ohno aos 70 anos. Roberto Carlos, hoje, faz 70 anos. Morre Kazuo, dançando, aos 103 anos, no ano passado: morre para não dançar novamente os seus mortos. Leva a dança-teatro argêntea argentina para brilhar em outro lugar. Tadashi Endo, guiado pelas mãos de Ohno, dança com uma flor, em Butoh-Ma. Ma é estar entre as coisas, pele e órgãos, dia e noite, violência e Eros. Tadashi dança Ikiru para Pina Bausch, que se despede de nós em 2009, num duo com Michael Jackson. Pina oferece uma flor para o Japão em Ten Chi. Tadashi faz Shi Zen Sete Cuias para o Lume. Tadashi dança One nine four seven – data do seu nascimento – para o seu pai, que morreu. 1947 é o ano em que meu pai nasceu. Tadashi em Hanami: Cerejeiras em Flor, filme alemão, celebra, no Monte Fuji, a beleza do vulcão. Na Magna Grécia de Dioniso, Empedócles une-se ao elemento fogo, atirando-se no Etna. Śiva, o deus dos atores-dançarinos, baila a vida e morte no meio de um círculo em chamas. A flor do Noh, as raízes do Butoh. A flor-de-lótus que nasce na escuridão das trevas e caminha para as luzes do Sol do Oriente. A flor de mil cores que mora no alto da nossa cabeça. A vitória-régia, dinastia que se desdobra em 50 pétalas para enfeitar os cakras, a guirlanda das letras do alfabeto devanāgarī. Rogério Duarte, tradutor da Bhagavad-Gitā, meu professor de sânscrito, meu aluno de Yoga, fez 72 anos. Minha mãe fez 60 anos. Kazuo Ohno, cristão, ex-combatente de guerra, aos 75, dança My Mother, dirigido pelos passos de Hijikata. Kālī é deusa-mãe do tempo. Mujer, se puede tu com Dios hablar, com teu rosário de 50 estrelas, transforma as culturas, o tempo do Realengo, o tempo de Fukushima, o mau tempo! Não deixa que as minhas mãos reumatizem a possível irradiação da destruição do Japão. O meu coração. O terremoto de Iansã, a tristeza do mar nas lágrimas de Iemanjá, a sujeira da imunda e sagrada Gāṇga, nossa América latina, ameríndia, negra, japonesa, nossa América liberdade, igualdade, fraternidade, nossa América hindu, nosso om, nosso zen, amém! 19 de abril, dia do índio de 2011.