sexta-feira, março 20, 2009

anotações de um ritual


O camelo, o leão e a criança brincavam com os quatro elementos. A mãe que matou os seus filhos era fogo. Josefina é fogo. Jerusalém é fogo. O homem da água é filho da mulher quase cega e sem uma perna, mulher também da água porque é mãe do menino da água. Mulher também do quadrante da árvore. E do fogo de Deus. E da raiz da respiração de onde sai a reza e a oração. A menina que foi deixada chora e também banha o seu filho de lágrimas, mas o filho está vivo. É magro, é de madeira, é de terra, sujo de carvão. E lindo. A irmã dela quer ser a madona e parir uma pomba. Ai, ai, ai. O camelo sonhava que viesse a chuva, a chuva dos camelos, a chuva dos índios e dos noruegueses. A criança se desejava artesã de quermesse, criar bonecas de toco de pano. O leão era o pai. Lia o seu almanaque e visitava o seu amigo, o professor Pardal, o leão-galo da rosa dos ventos. O menino brincava de bicicleta e mexia a barriga para dentro e para fora, cheio de ar, fazendo graça. O sacerdote atanazava o sonho do moço bom. A mulher que queria virar santa e morar em alturas, também levava consigo um pouco de água, de pó de terra e pequenos fogos de artificios, chuvinhas, traques de massa. Foi-se embora, com o seu teatrinho.