quinta-feira, maio 24, 2007

para quem gosta de cães

Foto: Elliott Erwitt

Uns cães atravessam a minha rua e entram na minha casa e deitam na minha cama e me mordem e me lambem com os seus sustos e seus afagos. Há alguns cães negros que espreitam, esperando o momento certo em que vão me devorar. Destes, eu terei sempre um medo, o pavor da carne dilacerada. Num atrevimento, os siberianos brancos e cinzas, deitam no meu colo. E para eles eu sou mãe, uma cantiga de ninar. Os da infância me olham de longe, devolvendo-me todo o paraíso perdido, pulando alto em minha cintura, despertando o dia com sorrisos e salivas, para o ar ter mais calor e sabor. E assim, numa estrada dentro de mim, os cães correm. Eles me perseguirão sempre, como uma idéia fixa que eu escolhi nesta vida para amar, enquanto eu não morrer.

segunda-feira, maio 14, 2007

alento

Por dentro e por fora
Num acordo profundo
O primeiro suspiro,
respiro:
ki-hai, bayu, prana
Em todo lugar, o meu ar.

quinta-feira, maio 03, 2007

nélida piñon


Um amigo querido me conta que um dia esteve numa festa onde estava o Cortazar. Perdi esta festa.
Não sei como era o rosto de Homero e tento imaginar Shakespeare em roupas de ensaios teatrais, mas nem sempre consigo.
Desconheço o sotaque de Guimarães Rosa, as contrações abdominais de Artaud, os passos de dança em Lorca e as comidas que saboreavam o paladar de Kafka.
Nélida é uma escritora do meu tempo, da minha língua, do meu verso e que toca profundamente o meu coração. Pode existir maior contentamento do que sabê-la ali, ao sudeste do meu país, a fazer anos e eu podendo desejá-la uma imensidão de coisas benfazejas para sua vida e sua escrita?
Axé, Nélida!