domingo, janeiro 18, 2009

para uma certa nina



Cartas Bahianas:

Pois bem: Para uma certa Nina é uma espécie de carta para uma sertanina, uma sertaneja ficticia para quem envio um bilhete, uma caderneta, um bloco de anotações. É um livrinho de brincar, colorir, divagar. Devagar. Uma andança em novas paragens: o conto curto, que ora é fragmento, ora prosa poética, mas tudo escrito ainda dentro da idéia do conto, meu estilo favorito. Tudo está em volta de uma história a ser contada, mesmo que seja de forma diminuta, como se fosse um trechinho de conto disfarçado de Koan, de haicai, de pequeno poema. Contos grandes partidos em pedaços, e ofertados para uma mulher que conheci depois de um acidente de carro que eu vivi em 2005, no alto sertão nordestino, no pé de uma serra na divisa de Pernambuco e Ceará, onde estive pesquisando o universo dos profetas da chuva para escrever o texto de teatro Jeremias.
Na encruzilhada onde houve o acidente estava uma pessoa, não lembro o seu nome, era uma mulher bonita, cheia de filhos, alegria no rosto e um marido robusto, honesto. Resolvi chamá-la de Nina. Ela já não tinha dentes. E a pele e o cabelo eram muito estragados pelo sol. E olhava pra mim como eu fosse um mistério, quando o mistério era ela própria.
Claudius convidou-me para o projeto Cartas Bahianas e eu quis enviar uma carta àquela mulher. Um conto, que é o que eu mais gosto de escrever entre as coisas que se escreve. E então nasceu este livrinho híbrido. Um registro suave e delicado de sensações que permearam esta viagem pelo sertão, onde atravessei desde a Bahia até o Norte do Ceará, lendo Guimarães. Por isso, uma homenagem a ele no final do livrinho. Guimarães é um mundo que eu louvo, louvarei sempre. Em segredo, mais bem em segredo mesmo, penso que Para uma certa Nina é o meu Tutameiazinho. Assim, sem acento e no diminutivo, para não ofender o mestre das travessias. Então posso dizer que ele é uma travessura, um travessinho. Mais um dos meus livrinhos de contos. De outro jeito, mas do mesmo modo, da mesma maneira.