terça-feira, março 23, 2010

guimarães rosa: escritor e vaqueiro

Por parte de pai, sou a neta mais velha de uma família muito numerosa. Certa feita, uma velhinha me abordou emocionada no meio da feira para dizer que eu era idêntica a uma amiga dela de infância. Perguntando o nome do meu pai, ela se emocionou mais ainda porque eu era realmente parente da amiga dela, a Isabel, minha bisavó paterna. Deste lado familiar de origem, veio toda a minha andança nas roças, nos pastos de gado, nos pés de fruta, nas montarias a cavalo. Isso foi se perdendo quando o avó e o avô se mudaram para a cidade. Hoje, parte desta minha herança preciosa se vai com a morte da minha última avó. O seu timbre de voz, seu fogão de fumeiro, seu pote d'água. Mas temos ainda Guimarães, não é? que será eternamente nosso, basta abrirmos uma página. E abro. E um bonito escritor diplomata médico imortal quase nobel e vaqueiro aparece na minha frente, dizendo que nada morreu, que tudo está comigo e estará para sempre. Neste ínterim, recebo a notícia que, na II Conferência Nacional de Cultura, oficializaram no país a profissão de vaqueiro. Só me dá uma alegria ter nascido na minha família, ter um nome que vem do cego Aderaldo, violeiro cantador do sertão, e morar neste lugar e falar esta língua.