sábado, março 13, 2010

dengue


Chovia a cântaros e os sapos cantarolavam nos pântanos e no terreno baldio junto a casa, numa serenata confusa. Um mosquito sofrendo por não saber cantar, afastou-se da sua nuvem e encontrando uma fresta no telhado da casa, adentrou em busca de abrigo. Viu um clarão e se aproximou. Na frente do clarão, uma moça mexia os dedos inquieta e os olhos grudados na luminosidade não observaram as pequenas pedras preciosas fincadas na asa do inseto, como pontos estelares, parte brilhante do seu veneno.
O mosquito, apreensivo e com medo, pensou que a moça também padecesse do seu mesmo mal: uma distância qualquer de tudo que importa. Apressadamente, quis remover a causa da dor, encostando-se levemente em seu peito, num beijo tortuoso.
A moça agora anda prostrada e tudo é lento: movimento, alento, pensamento.
Só uma pergunta permanece veloz no seu delírio: por onde andará o mosquito?