quinta-feira, maio 24, 2007

para quem gosta de cães

Foto: Elliott Erwitt

Uns cães atravessam a minha rua e entram na minha casa e deitam na minha cama e me mordem e me lambem com os seus sustos e seus afagos. Há alguns cães negros que espreitam, esperando o momento certo em que vão me devorar. Destes, eu terei sempre um medo, o pavor da carne dilacerada. Num atrevimento, os siberianos brancos e cinzas, deitam no meu colo. E para eles eu sou mãe, uma cantiga de ninar. Os da infância me olham de longe, devolvendo-me todo o paraíso perdido, pulando alto em minha cintura, despertando o dia com sorrisos e salivas, para o ar ter mais calor e sabor. E assim, numa estrada dentro de mim, os cães correm. Eles me perseguirão sempre, como uma idéia fixa que eu escolhi nesta vida para amar, enquanto eu não morrer.