domingo, novembro 11, 2007

aleijadinhos

Profeta Jeremias, de Aleijadinho

Tenho uma réplica de Aleijadinho em pedra-sabão. É o profeta Joel, que um dia caiu da minha estante e quebrou a cabeça. Acompanhando Joel, tenho outros objetos suicidas: uma miniatura de Drummond - sempre acompanhada da de Manoel Bandeira e Machado de Assis - que perdeu a cabeça por uma morena trigueira, que nunca deu boa pra ele, pois preferia mesmo era a sanfona de Luiz Gonzaga, uma das minhas miniaturas mais preciosas, esse sertanejo gigante no seu acordeão; havia uma sereia que se lançou cômoda abaixo e também perdeu a cabeça por um Odisseu navegante que passeava por um teclado de computador, num mar logo embaixo do móvel. Além destes, tenho outros tantos objetos de cerâmica mutilados nos pés, braços e pernas, destroçados pelo espanador de poeira. E ainda um cemitério de ímãs de geladeira, todos aguardando uma cola durepox. Para todos os outros objetos ainda intactos, fico pensando o que será deles quando eu não estiver mais aqui. Quem cuidará deles por mim quando também a minha cabeça estiver longe do corpo? A quem pertencerá toda esta minha herança afetiva? O profeta João Batista também perdeu sua cabeça para Salomé. Mas o que eu tenho aqui comigo, é o São João do carneirinho, ainda distante de qualquer tragédia. Para ele faço uma prece: que mantenha minha cabeça sempre próxima a esse universo fantasioso dos profetas e suas profecias.