segunda-feira, agosto 13, 2007

citius, altius, fortius



O problema da tolerância é que ela é uma questão de opinião. Assim sendo, uma crença incerta ou uma crença numa certeza subjetiva. Na nossa lingua, ela passa uma idéia de polidez. Idéia que eu não gosto. Estava numa pizzaria filial destas do sudeste do país. Um lugar insosso, com música insossa. Tudo tão insosso que até este delicioso sabor do leste ficou insosso. Um atendimento tão veloz, tão desejoso de eficiência, que ficou insosso. E as pessoas, ao entrar, iam aderindo a este estado insosso, uma gente bonita que ia ficando parecida com manequim de loja decadente. E estávamos em nove. E estranhávamos tudo. Eu quero o meu sertão de volta. Soube que Elomar, um dia, gritou amigavelmente ao garçom de um restaurante paulista pedindo-lhe farinha. Assim, com um sotaque com gosto de carne seca e pedindo farinha, como se quisesse colocar água quente dentro e fazer fervura e farofa, comida com gosto de casa. Para alguns do restaurante paulista, foi dificil tolerar Elomar. Para mim também foi dificil tolerar a garçonete derrubando um prato no chão, tolerar um olhar que nunca se encontrava com o meu,tolerar o seu desejo de servir a todos os clientes de forma rápida, não para que ficassem satisfeitos, mas para que desocupássemos rapidamente as mesas, pois outras dezenas de pessoas já esperavam em pé. Sou intolerante, quis gritar. Mas usei a polidez e o humor, duas outras virtudes que tenho, já que me falta a tolerância. E sorri da moça, imitei seus gestos impacientes, sua inquietude, seu desejo antipático de estar em outro lugar. Eu também, às vezes,desejo estar em outro lugar. Ontem desejei estar em outro lugar, um lugar mais perto de casa.
E pensando em tolerância, ocorre-me o citius,altius,fortius e eu quero sim, esta bela imagem para mim, para mim.