domingo, março 22, 2009

a mais bela

O busto da bela egípcia mede uns cinquenta centímetros. A bela não tem uma córnea. Borges, um dia, modificou um dos seus poemas porque estava perfeito demais. Talvez não tenham colocado o outro olho para não fazer inveja às deusas. Ou talvez o olhar da rainha Nefertite seja o prenúncio de uma profecia sem decifração.

sexta-feira, março 20, 2009

um adeuzinho ao verão

E ainda há o bruxo magro, a coluna vertebral que come a cinza dos deuses. E a menina que depila os pelos e se pinta de mariposa cor-de-rosa. E um príncipe miudinho que sabe respirar por um narina só. As mosquinhas assistiram todo o filme e foram dormir nos seus travesseiros dentro dos mosquiteiros de nylon. Um pássaro aponta os pontos cardeais e já é outono na cidade.

anotações de um ritual


O camelo, o leão e a criança brincavam com os quatro elementos. A mãe que matou os seus filhos era fogo. Josefina é fogo. Jerusalém é fogo. O homem da água é filho da mulher quase cega e sem uma perna, mulher também da água porque é mãe do menino da água. Mulher também do quadrante da árvore. E do fogo de Deus. E da raiz da respiração de onde sai a reza e a oração. A menina que foi deixada chora e também banha o seu filho de lágrimas, mas o filho está vivo. É magro, é de madeira, é de terra, sujo de carvão. E lindo. A irmã dela quer ser a madona e parir uma pomba. Ai, ai, ai. O camelo sonhava que viesse a chuva, a chuva dos camelos, a chuva dos índios e dos noruegueses. A criança se desejava artesã de quermesse, criar bonecas de toco de pano. O leão era o pai. Lia o seu almanaque e visitava o seu amigo, o professor Pardal, o leão-galo da rosa dos ventos. O menino brincava de bicicleta e mexia a barriga para dentro e para fora, cheio de ar, fazendo graça. O sacerdote atanazava o sonho do moço bom. A mulher que queria virar santa e morar em alturas, também levava consigo um pouco de água, de pó de terra e pequenos fogos de artificios, chuvinhas, traques de massa. Foi-se embora, com o seu teatrinho.

terça-feira, março 17, 2009

cartas bahianas, segundos volumes


O projeto Cartas Bahianas, editado por Claudius Portugal e a P55 segue com mais dois novos lançamentos. O sol que a chuva não apagou, de Allex Leilla e Vestígios da Senhorita B., de Renata Belmonte, duas colegas de ofício. Allex é quase uma madrinha, pois estava na banca da Copene quando fui premiada em 2001. E é uma das grandes escritoras da terrinha. Aliás, a casa está bem servida: ela e João Filho (seu marido, que também estará na coleção) fazem uma bela dupla e tudo que escrevem é muito bom. Renata, sempre linda com seus bonitos vestidos, promete trazer bons vestígios do seu blog. Estarei lá, claro, para prestigiar a coleção. E mês que vem também teremos Aninha Franco com um inédito livro de gastronomia...

domingo, março 08, 2009

artesania

Foto de Lia Seixas

Aos 80 anos de idade, depois de um acidente num pé de jaca, Seu Diva, convalescendo, começa a criar passarinhos de tecido, passarins de pano. Bichinhos que não vivem em gaiolas. E foram as suas harmoniosas estampas brilhantes e coloridas alinhavadas com o sorriso de Dona Ana brincando com elas, que curaram a perna de Seu Diva.


A criação de Seu Diva, assim como a de alguns outros delicados artistas artesãos que tenho encontrado pelo caminho estarão perto de mim hoje e sempre nas minhas andanças no teatro e na vida.